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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Crédito de fora começa a secar.

BRASÍLIA — A crise internacional chegou de vez ao Brasil e pelo mesmo caminho que em 2008: a restrição ao crédito para as empresas. Dados do Banco Central (BC) mostram que já em outubro o financiamento de matrizes estrangeiras para filiais brasileiras desacelerou fortemente, para US$ 1,2 bilhão, queda de 60% sobre setembro e metade da média mensal de ingresso de 2011. É o pior número desde maio de 2010. Os exportadores reclamam ainda que os bancos pequenos e médios pararam de conceder financiamento, pois preferem ficar com o dinheiro em caixa a assumir riscos em meio às turbulências. Quando emprestam, estão cobrando mais caro. A redução do financiamento externo foi uma das explicações dos analistas para queda de 0,2% no investimento captado pelas Contas Nacionais, divulgadas semana passada.
Por isso, o governo estuda repetir medida tomada há três anos: usar dinheiro das reservas para suprir o crédito estrangeiro e financiar as vendas de produtos daqui lá fora. Há expectativa também de que o BNDES abra novas linhas para suprir a demanda dos exportadores que recorreram à equipe econômica para se queixar da dificuldade.
— Está mais caro e mais difícil conseguir crédito no exterior e o BC não perdeu com isso (em 2008 e 2009), até lucrou com a medida. Por isso, o governo avalia essa possibilidade até porque já é a hora de começar a atuar — informou uma fonte do governo.
Dados do BC mostram que o crédito externo — que na sua maioria é para financiar as exportações da indústria e da agropecuária — caiu 2,1% em outubro, com estoque de R$ 62 bilhões. É uma reversão de uma sequência de altas seguidas desde julho. No ano, este tipo de empréstimo ainda sobe 27%.
O BC alega que essa queda deve-se à cotação da moeda americana. O setor produtivo tem outra explicação. Para Daniel Dias de Carvalho, diretor da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos, as empresas brasileiras que tomam crédito no exterior, principalmente, por meio de suas matrizes, já sentiram o impacto do recrudescimento da crise:
— A fonte secou. As matrizes não estão repassando tanto porque não têm crédito nem para elas mesmas.
A percepção do economista já é traduzida em números. O ingresso de empréstimos intercompanhias — por exemplo, da sede de uma montadora americana para sua filial no ABC paulista — atingiu em outubro o patamar mais baixo em 17 meses. O US$ 1,2 bilhão emprestado está no mesmo nível do US$ 1,156 bilhão enviado em outubro de 2009, quando o mundo ainda vivia a recessão que se seguiu à derrocada do Lehman Brothers, em setembro de 2008. Carvalho alega que isso gera uma reação em cadeia, já que esses recursos são destinados à ampliação das fábricas e, consequentemente, da produção no Brasil.
Bancos pequenos e médios se fecham
Este não foi o único canal a minguar. Os exportadores reclamam também do sistema financeiro doméstico.
— Os bancos pequenos e médios fecharam as linhas de crédito. Não é que não tenha liquidez como em 2008. Até tem, mas os bancos preferem ficar com o dinheiro parado do que assumir o risco — afirma o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Segundo ele, o problema só não é pior porque no fim do ano o comércio exterior é mais fraco.
Quem tem de realizar operações está pagando mais caro. O spread — diferença entre o que o banco paga para captar e quanto ele cobra do cliente — dos empréstimos com repasses do exterior só aumenta desde agosto. Chegou a 10,2 pontos percentuais, o maior patamar desde setembro do ano passado.
Diante deste cenário, o governo começou a estudar a retomada do uso das reservas internacionais para financiar os exportadores e driblar o chamado empoçamento de liquidez — quando o banco tem dinheiro mas não quer emprestar com medo de calote. Esta foi a estratégia de três anos atrás, quando este colchão era de US$ 200 bilhões. Agora, as reservas são superiores a US$ 350 bilhões.

 Fonte: G1

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